Visitas Obrigatórias:
- Pai, hoje o Marco bateu-me na escola. - diz ela, enquanto me mostra as pernas, com nódoas negras.
- Bateu? Porquê?- pergunto-lhe enquanto faço o jantar ao mesmo tempo que tiro a loiça da máquina e dou de comer ao gato (efeitos secundários do post anterior)
- Bom......e o que vai ser o jantar? - pergunta-me ela, não ficando contente com o facto de eu não mostrar a minha solidariedade, para com as suas dores.
- Isso agora não interessa. - digo, enquanto tento chegar a tempo para baixar o lume dos grelhados. - Conta-me mas é essa história como deve de ser.
- Eu só queria saber onde está a pomada para pôr nas nódoas negras. Era só isso.
- Anda mas é para a sala contar-me isso como deve de ser. - digo, pois na cozinha já não se conseguia respirar com o fumo dos grelhados.
- Mas o que é que tu queres que eu te conte?
- O que houve hoje na escola.
- E o que me dás em troca?
- A possibilidade de não te dar umas palmadas.
- Está bem. Tu sabes que na minha turma aos intervalos temos grupos. Acontece que agora anda muita gente a fugir do meu grupo para o grupo da Maria, pois ela anda a oferecer rebuçados a eles. E eu não acho isso justo.
- Tens razão. E então?
- Então, eu fui falar com a Maria e disse-lhe que não achava justo ela ter rebuçados, e com os rebuçados fazer com que as raparigas do meu grupo fossem para os dela. Ela não gostou e desafiou-me para uma luta. E pronto....
- Pronto? Mas como é que o Marco entra na história?
- hmmm.... Bom....Cada grupo é que escolhia quem é que ia à luta, e como no meu grupo mandam todas, escolheram-me a mim. No grupo da Maria ela disse que era o Marco. E pronto, foi isto.
- Ok. E aprendeste alguma coisa hoje?
- Sim. Que isso de todas mandarem no meu grupo, por vezes não é muito bom. O melhor é ser só eu a mandar.
- Quem é que andou a queimar a minha cozinha toda? - grita histericamente a minha mulher, quando regressa do seu período “só dela” de ginástica, banho e cremes.
- Mas olha que isso pode fazer com as pessoas se chateiem contigo, e haja mais pessoas a sair do grupo, por sentirem que já não és lá muito democrata. - digo, à nossa filha.
- Estou farta disto. Tenho que ser sempre eu a fazer tudo nesta casa. Tu nunca mais ganhas juízo, ou fazes de propósito? Depois do jantar quero isto tudo limpinho, ouviste? - grita a minha mulher, da cozinha.
- Acho que não. Tu ainda continuas a viver aqui, mesmo com a mãe a mandar em ti e a gritar contigo quase todos os dias. - responde-me, enquanto vai ligar a televisão e me deixa a pensar sobre técnicas de guerrilha para recuperar a democracia familiar.